ENTREVISTA 1
1- Qual seu nome completo?
Resposta: Meu nome é Paulo Roberto de Oliveira Peixoto.
2- Em que área atua?
Resposta: Atualmente leciono matemática em escola
municipal e estadual, para alunos do ensino médio e fundamental.
3- Qual é a sua formação?
Resposta: Sou formado pela faculdade Souza Marques em
Física e Engenharia civil
4- Então o senhor não tem uma formação propriamente voltada
para o magistério. Gosta de lecionar?
Resposta: Com todas as dificuldades que enfrentamos
hoje, principalmente nós da rede pública, adoro o que faço. Gosto de ver ao
final de cada ano letivo as mudanças que consegui auxiliar em meus alunos,
mesmo naqueles que eu pensava que não haveria sucesso.
5- Por que decidiu largar a carreira de engenheiro?
Resposta: Comecei minha carreira como engenheiro civil, mas
no entanto ela não me satisfez. Procurava algo que realmente pudesse contribuir
para o bem estar social. Comecei então a lecionar física e matemática, mas
depois optei em ficar só com a matemática.
6- Como planeja suas aulas?
Resposta: Planejo minhas aulas com a exposição de
exemplos e aplicação de exercícios de fixação. Utilizo livros didáticos e
textos, além de jornais, revistas e outros métodos.
7- Acha o método de planejamento importante para as aulas?
Resposta: Na prática do magistério devemos agir em prol
do bom entendimento, a partir das ferramentas disponíveis, embora ache que além
do planejamento, o improviso é válido sempre que necessário. A turma dita o
ritmo, e apresenta necessidades novas a cada aula.
8- Fale sobre as diferenças das redes pública e particular:
Resposta: Ambas as redes possuem suas deficiências e
dificuldades. Meu trabalho requer uma paciência que nem sempre os professores
possuem. É necessário entender o histórico de vida dos diferentes alunos para
saber a bagagem que eles já carregam. Nenhum aluno é igual a outro. Na rede pública
encontramos dificuldades maiores, pois por serem de uma classe social de menor
poder aquisitivo, não possuem recursos complementares na educação. São meus
preferidos, pois acho que precisam de uma atenção especial.
9- Está satisfeito com a mudança na profissão?
Resposta: Financeiramente não tanto, pois poderia estar
ganhando bem mais como engenheiro, mas do ponto de vista das realizações
pessoais, sim.
10- Sobre nossa conversa anterior a entrevista, acerca da
minha pesquisa com os alunos da escola Municipal Menezes Cortes, onde não seria
exagero dizer que "detestam" a matemática, o que poderia dizer sobre
isso?
Resposta: Estudar matemática está longe de se resumir a
equações e cálculos numéricos. Ela está ligada ao desenvolvimento do raciocínio
lógico, que será necessário para toda a vida. Em relação a não utilizarem tais
fórmulas após o colégio, concordo em partes. Também eu já me indaguei se a
disciplina não deveria ser revista, mas não cabe a nós, na maioria das vezes
escolher ou não. Nos colégios, há um departamento específico que decide aquilo
que você deve apresentar, o que nos torna, em partes, presos a esse ou aquele
planejamento.
11- E em relação aos adultos que optaram em interromper os
estudos por causa da matemática?
Resposta: Esse é um problema que superficialmente não
pode ser compreendido. Assim como matemática, vejo alunos que sempre vão
detestar esta ou aquela disciplina. No entanto, me arriscaria a dizer que
ensinar requer muito mais do que profundo conhecimento técnico sobre o conteúdo.
Tornar a aprendizagem leve, e porque não alegre, é tarefa de cada professor.
Infelizmente muitos ainda estão enraizados nos ensinos tradicionalistas, o que
torna a aula um saco mesmo. Para os que abandonaram os estudos, digo que
fizeram grande bobagem. Tudo na vida que tiverem dificuldades irão simplesmente
desistir? Sempre afirmo que uma estrutura familiar adequada é de suma
importância para o aluno. Será que não faltou apoio para esses que desistiram?
12- O que poderia ser feito para que a matemática se
tornasse mais agradável?
Resposta: Para mim ela já é agradável, mas se pudesse
reveria de fato alguns conteúdos, que não acho mesmo necessário que alunos de
ensino fundamental precisem ter por hora.
ENTREVISTA 2
Professora Niuza Eugênia.
1. Qual é a
sua formação e há quanto tempo está no magistério?
Minha formação :
1976 – Conclusão do Magistério/Ensino Médio
1982 – UFMG – Conclusão da Graduação em Letras / Francês e
Literatura Francesa
1984 – UNIVERSITE DE FRANCHE – COMTE – Centre de
Linguistique Appliquée de Besançon – França – Estágio Pedagógico de 28/12/1983
a 06/02/1984
1993/1994 – TREND EDUCACIONAL/RJ – Treinamento em Linguagem
LOGO para atuar como professora de Informática para Ensino Fundamental
2000/2001 – UNIREDE – Curso TV ESCOLA e os Desafios de Hoje
2002 – CEFET-MG Latu Sensu em Informática Aplicada
2004 – SEEMG- (Secretaria de Educação do Estado de Minas
Gerais ) Curso PROGESTÃO – Especialização em Gestão Escolar
2008 – CEFET-MG – Stricto Sensu – Mestrado em Educação
Tecnológica.
Minha experiência como professora teve início em 1978,
enquanto estagiária do CENEX – FALE- UFMG. O CENEX funciona ainda nos
dias de hoje, seguindo os mesmos princípios. Os alunos do Curso de Letras
passam por um exame de seleção, fazem treinamento especial para dar aulas nos
cursos de idiomas oferecidos à comunidade universitária e a terceiros, quando
restam vagas. Foi uma experiência maravilhosa, de grande riqueza para o
crescimento profissional. Depois de formada, passei no concurso público para
professora de Francês, promovido pela Secretaria de Educação do Estado de Minas
Gerais. Atuei por 15 anos como professora de Francês para ensino fundamental
(hoje 6º e 7º anos, antigas 5ª e 6ª séries); criei o Centro de Línguas
Leon Renault, que atendia não somente aos alunos, mas à comunidade escolar
(pais, professores, funcionários da escola), oferecendo cursos de conversação e
ainda pré-vestibular para os alunos do Ensino Médio. De 1998 a 2004, elaborei
provas de francês para concurso de vestibular para Escola de Engenharia
Kennedy. A partir de 2000, quando a disciplina Francês Língua Estrangeira foi
excluída da grade curricular das escolas públicas de Minas Gerais, passei a
atuar no Laboratório de Informática, como Coordenadora e orientadora de
atividades para o Ensino Básico, Fundamental e EJA- Educação de Jovens e
Adultos. Atuei também como vice-diretora em 2004 e em 2009. Ministrei cursos de
formação continuada com a proposta de inserção das ferramentas tecnológicas na
prática pedagógica, o que me conduziu ao Mestrado em Educação Tecnológica em
2006 e defesa de dissertação em abril de 2008. Resumindo esta trajetória então,
estou há mais de 30 anos no magistério. Paralelamente a todas estas
experiências, sempre atuei como professora de aulas particulares de FLE- Francês
Língua Estrangeira, o que culminou em 2008 com a criação do blog Aula de
Francês.
2. Antes de
ser professora, exerceu alguma outra profissão?
Não. A única coisa que faço além de dar aulas é
artesanato que, às vezes, me proporciona ganhos extras, porém nada
profissional.
3. Por que escolheu essa carreira? Quais
eram suas expectativas sobre o magistério?
Acredito que dois motivos me levaram a escolher esta
profissão e estão diretamente relacionados em primeiro lugar ao fato de gostar
muito de ler, ser curiosa por saber a origem de tudo e em segundo à estrutura
familiar e ao ambiente escolar de colégio de freiras, onde estudei. Posso dizer
mesmo que pertenço a uma das últimas gerações em que o magistério era muito
valorizado como carreira profissional para a mulher. As expectativas sempre são
para além da realidade, então sempre nos decepcionamos, até porque entrei para
o magistério em escola pública em uma fase de início de declínio do ensino
público. Mas busquei a realização plena do meu trabalho sempre consciente de
que esta carreira vai além do ensinar e aprender, está diretamente ligada à
formação do indivíduo como um todo, como um ser humano. Com isso, posso dizer
que sempre fui muito mais educadora do que professora de um determinado conteúdo,
até porque há uma enorme carência de ensino de valores humanos, infelizmente, e
não é só em escola pública não, em escolas particulares também na mesma
proporção.
4. Em algum momento, pensou em desistir?
Sim, pensei em desistir quando não sentia meu trabalho
valorizado ou reconhecido. Passei pela desagradável situação de “Professor
Excedente”, nome que nas escolas da rede pública do Estado de Minas Gerais,
designa o professor cujo cargo ou disciplina não faz mais parte da grade
curricular, e que então, consequentemente, passam a nos atribuir tarefas
inadequadas dentro do quadro de profissionais da escola. Isto de certa forma,
porém, acabou me conduzindo a buscar novos horizontes até chegar ao Mestrado em
Educação Tecnológica. Hoje estou vivendo meu primeiro ano de aposentadoria
deste cargo de professora.
5. Qual episódio da sua carreira causou-lhe mais emoção
e por quê?
Acho que vivi intensamente minha experiência no magistério.
Tenho ótimas lembranças e neste momento uma em especial ressalta. Uma estagiária
estava realizando uma pesquisa para o PEAS-Programa de Educação Afetivo-Sexual
da Secretaria de Educação, entre os alunos de 7ª e 8ª séries, hoje 8º e
9º anos. Dentre as perguntas que esta jovem tinha a fazer estava a seguinte: “Você
confia em algum(a) de seus (suas) professores (as) para falar de assuntos
ligados à sua sexualidade?”. E para minha surpresa esta estagiária me
procurou dizendo que o único nome citado pelos alunos, tanto meninas quanto
meninos, foi o meu. Isto me deixou emocionada porque ficou clara a relação de
confiança que eu sempre me propus a manter, a relação maior de educadora.
Não é fácil para o adolescente se abrir para os adultos, somente com um vínculo
forte de confiança. Isto foi marcante para mim.
6. Você escreve dois blogs: Informática na
prática educativa e Aulas de Francês. Como e por que surgiu a
ideia de criá-los?
Quando entrei para o curso de pós-graduação em
Informática Aplicada, um dos meus objetivos era aprender a criar um site para
as aulas de Francês. Quando então me deparei com as aulas de Lógica e Noções de
C++( linguagem de programação), fiquei bem desanimada porque vi o quanto era
difícil e exigiria muito tempo de estudo e trabalho. No decorrer do curso tomei
conhecimento de um aplicativo que já tornava esta tarefa mais fácil, o Dreamweaver que
permite criar páginas na internet sem saber HTML ou outra programação.
Novamente me entusiasmei e comecei então a estudar o software, vislumbrando
minha página para futuras aulas de francês. O Ano era 2002 e parece que já é há
muito mais de dez anos porque muita coisa mudou desde então. Acabei optando por
investir no Mestrado, tão logo terminasse minha Pós. E foi então, no decorrer
do curso de mestrado em Educação Tecnológica, que a WEB 2.0 iniciava sua
trajetória com a criação de ambientes colaborativos como os blogs, até surgir a
ferramenta que hoje utilizo o BLOGGER, disponibilizado pelo Google,
gratuitamente. Criar um blog para o ensino de uma LE (Língua Estrangeira)
é o que há de melhor para o desenvolvimento das competências básicas, pela possibilidade
rápida de comunicação que a Internet oferece, a ponto de até mesmo entrar em
contato com um falante nativo do idioma, em tempo real. E é através da
hipertextualidade que esta ferramenta se torna tão relevante, pois podemos
inserir hiperlinks para diversos registros de textos tais como uma reportagem,
um conto literário, uma poesia, uma informação de acontecimento cultural, uma
receita culinária típica, e ainda os registros de áudio perfeitos em músicas,
entrevistas, trechos de filmes e etc, etc… Posso dizer até mesmo que o
meu entusiasmo vem, de certa forma, da grande dificuldade de contato com
falantes do idioma que enfrentava em minha época de estudante. O que tínhamos
em termos de áudio, por exemplo, eram fitas cassete, muitas vezes com péssimas gravações.
Uma correspondência demorava cerca de 15 a 20 dias para chegar, quando
tentávamos nos corresponder com a Europa. Minha tarefa hoje, com o meu blog,
além de publicar atividades que elaboro, é também a de pesquisar o que há de
melhor disponibilizado na Internet para meus alunos/usuários. Recebo visitas
também de pessoas do mundo todo. Já recebi comentários de usuários
brasileiros que estão fora do país e necessitam aprender francês, de
professores de francês de outros países – como Portugal e Espanha- , de
franceses que precisam às vezes de informações sobre a língua portuguesa, de
estudantes de francês da Ucrânia, do Canadá além de estudantes brasileiros de
diversos estados. Considero então um reconhecimento pelo meu trabalho há 4 anos
neste blog.
A criação do segundo blog surgiu a partir de um convite para
dar oficinas de blog para cursos de formação continuada. Conto com um bom
número de seguidores e meu público-alvo são os professores em exercício
que necessitam inserir as ferramentas tecnológicas em sua prática
pedagógica.Falo ali de aplicativos, sugiro leituras e fundamentação teórica
para esta prática. Entrei para o Grupo Blogs Educativos e em minha lista de
blogs disponibilizo links para os blogs de colegas do grupo que têm o perfil do
educador do nosso século, em minha concepção. Discuto a questão “um blog
para cada professor”, como uma possibilidade de melhoria da prática
pedagógica, extensão da hora-aula de 50m, comunicação direta com os alunos,
interação, colaboração, incentivo à pesquisa e até à produção de textos, vídeos
para serem publicados nos blogs, enfim educação a distância.
7. Um de seus blogs é utilizado para o
ensino e aprendizagem de francês. Houve participação de
alunos na construção inicial do blog ou eles apenas o
utilizam como material de consulta?
Os alunos não participaram e nem participam da construção do
blog em si. Participam em algumas propostas de atividades de produção de
textos, como paródias de poesias, descrição de telas artísticas, relato de
viagens turísticas que realizaram, e cujo objetivo é o desenvolvimento da
competência escrita em língua estrangeira. Sempre proponho enviarem
a produção de texto por e-mail para ser corrigida e depois discutida em
sala de aula. Selecionamos uma imagem adequada do arquivo pessoal do aluno ou
da internet e só então publicamos. O meu público é muito eclético e há uma
grande variação de situações.
8. A sua dissertação de mestrado é
sobre informática educativa. Como foi o processo de
escolha desse tema? Fale-nos um pouco sobre a sua
pesquisa.
Antes de entrar para o Mestrado eu já
participava de um Grupo de Pesquisa do CEFET-MG, o GEMATEC, dirigido pelo
professor Dr. Ronaldo Luiz Nagem. Este é um grupo muito interessante, inédito
em sua escolha de tema de discussão que é Analogias, Metáforas e Modelos na
Educação, na Ciência e na Tecnologia. Foi mesmo por incentivo dos colegas do
grupo que decidi tentar o Mestrado em Educação Tecnológica e como atuava no Laboratório
de Informática da escola estadual onde trabalhei durante 25 anos, percebi a
ligação existente entre os dois temas: ensino de informática e função cognitiva
das metáforas conceptuais. Percebia que, o tempo todo que ensinava informática,
recorria às analogias para explicar vários conceitos de certa forma abstratos
para o aluno leigo. Percebia o quanto concepções metafóricas facilitavam
o entendimento do abstrato, a partir do momento que as desconstruía para os
alunos/professores, que sempre foram meu público-alvo.